Opinião

ANEA - ALIANÇA NACIONAL DOS ENTREGADORES DE APLICATIVOS
Inauguração

Por Nicolas Souza Santos

Nós entregadores, finalmente, deixamos de ser somente parte da paisagem urbana e estamos, agora, no centro do debate político nacional. Não é somente pelo fato do governo eleito ter prometido, em sua campanha presidencial, olhar por nossa categoria. O debate é mais amplo, carregado de ideologias contrárias, cada uma puxando a categoria para si e se esquecendo do principal: o que querem os entregadores?

Com esse desafio, as lideranças reconhecidas em todo o país se uniram na tarefa de buscar o sentimento majoritário da categoria, estudar a legislação, conhecer experiências internacionais, formar pontes com lideranças de outros países e bater à porta do governo, dizendo, em uma só voz: “precisamos ser ouvidos”. Nascia a Aliança.

Deu certo: o Ministério do Trabalho destacou o senhor Gilberto Carvalho, ex-ministro e atual Secretário de Economia solidária, para nos ouvir. Recebemos dele e do ministro a garantia de que estaríamos na Mesa promovida pelo Governo, e que poderíamos levar nossa própria proposta.

A partir daí, tudo virou trabalho: reuniões, troca de e-mails, documentos, correria, muito estudo e busca da base para construir nossa Carta com nossas demandas. E fizemos, e publicamos, em live no Canal do Ralf MT, uma Carta que traduz os desejos da categoria.

Live de publicação da Carta no Canal do Ralf MT

Não inventamos nada disso. Somos, nós próprios, entregadores, dia e noite, no sol e na chuva, sem domingo ou dia santo, na guerra pela sobrevivência. Somos, nós próprios, aqueles que temem se acidentar e ficar sem sustento, aqueles que trabalham dobrado em um dia pela folga no outro, aqueles que não vêem férias há anos, mão calejada no punho da moto, coluna deteriorada ao peso do tempo, pele queimada de sol e com saudades da família.

Nas trocas de ideias com os parceiros, fica claro que ninguém recusa a garantia de direitos. O medo é que esses direitos venham com obrigações que não cabem para a nossa categoria, como jornada de trabalho fixa, patrão assediando e ganhos irrisórios.

Nessa linha, estamos propondo uma Carta de Direitos, na qual solicitamos ao Poder Público que nos garanta o que já é nosso. Oras, se a lei diz que devemos ter férias remuneradas, por qual razão não temos? Se a lei garante que temos direito ao auxílio-doença em caso de acidentes, por qual motivo não temos?

Respondo: porque as plataformas enfrentam a legislação brasileira. Do alto de sua arrogância, se recusam a nos ouvir, a nos atender e desafiam as leis que nos garante qualidade de vida. É hora de um basta!

Não se deixe manipular pelas chantagens das plataformas. Elas não abandonarão o vibrante mercado brasileiro. Não se deixe manipular pela ideia de que o trabalhador quer ficar 16 horas trabalhando em um só dia: ninguém quer, não é saudável, e não se trata somente de você: um acidente envolve inocentes, inclusive sua família.

A Aliança é a liderança desse processo revolucionário que alterará as condições de vida dos entregadores, em uma luta de resistência contra o ataque das plataformas aos nossos direitos, e de reafirmação do papel do Estado em garantir que as leis sejam cumpridas.

Queremos todos os nossos direitos. Queremos nossa flexibilidade. Queremos poder levar nossos filhos à escola, queremos poder marcar presença naquele churrasco ou festa de família, queremos viajar nas férias com o do mês garantido, e a segurança de que – na pior das hipóteses – nossa família esteja assegurada. E tudo isso é possível seguindo o fluxo normal de nosso trabalho, desde que as plataformas abandonem sua ganância e se curvem às leis do Estado brasileiro.

Este site contém nossa Carta e nossos contatos. É essencial que todo entregador se una à nós nessa guerra, cujas primeiras batalhas lutamos e perdemos. Mas se caímos e levantamos sempre, é o que estamos propondo: se levante! se organize conosco! lutemos!

O trabalhador nada tem a perder, a não ser suas correntes.